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Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes.
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domingo, 22 de agosto de 2010

Urgência em Recomeçar

Todo relacionamento começa com o desejo que dure para sempre, pelo menos quando atinge um ponto de maior solidez. Naturalmente, ainda que todos saibam que pode chegar ao fim, vive-se o dia a dia com a certeza que será eterno. Namoro, casamento, planos, projetos, filhos, situações tristes e alegres da vida, tudo que compõe e constrói um relacionamento, tudo isso é vivido diariamente pela dupla e oferece solidez ao relacionamento. Os anos passam e alguns relacionamentos caminham para o "juntos para sempre" enquanto outros dão pouco a pouco sinais de desencontros e desajustes difíceis algumas vezes de conciliar e com o tempo o casal se distância e se aproxima do final.

Muitas vezes o final vem acompanhado também do fim do amor e em outras vezes não, mas nessas ocasiões apesar do amor que se sente ele ainda assim não é suficiente para dar continuidade ao relacionamento. De toda forma a ruptura é sempre difícil e sofrida, nunca simples.

Em paralelo é preciso falar sobre a urgência que se experimenta hoje em dia em muitos campos da vida e o sentimental é prioritariamente um deles. Hoje todos correm contra o relógio, não importa a ocasião, é simplesmente necessário chegar o mais rápido possível ao destino final e o desejo maior é que o caminho envolva pouco sentimento, pouca dor, nenhum sofrimento.

Conhecer alguém, se apaixonar, namorar, casar, filhos, uma vida em comum. Não precisa também que se tenha ido tão longe, podemos incluir nesse pacote apenas os namoros, não importa. Leva-se dias, anos para se construir um amor, uma intimidade, inserir aquela pessoa lentamente na sua vida, deixá-la entrar e fazer parte, até que vira aos poucos parte de cada um. Não se experimenta nessa construção uma necessidade de urgência, os dias são vividos e aproveitados (ainda mais no início) intensamente, porém sem pressa, simplesmente passam e naturalmente o elo se torna mais rico, mais forte, mais sólido. Como todo relacionamento, leva-se um tempo de construção.

O que acontece então com essas mesmas pessoas quando o namoro/casamento acaba? O que acontece que vivem uma urgência em extirpar rapidamente o outro e o sofrimento de dentro de si?

Podemos dizer, que todos estão cada vez mais com menos possibilidade em lidar, encarar e elaborar as frustrações da vida. Não quero dizer com isso que o processo de sofrimento seja fácil, ao contrário, é difícil e acima de tudo lento. Elaborar uma perda é um processo que pode levar anos se necessário, ainda que se diga que já não se gostavam mais nos casos amorosos. Toda a falta de pressa que se teve no início, quando ainda construíam o vínculo se transforma em correria contra o tempo, contra o rumo natural dos sentimentos. Agem como se a dor fosse o diabo do qual precisamos fugir para bem longe. Acontece que ela segue junto e não se dá por vencida enquanto não enfraquece por causas naturais, pouco a pouco.

Todos querem encontrar a formula para acabar com a dor sem compreender que o final exige a desconstrução do que um dia foi construído. Não é possível demolir aquela "casa" e limpar da noite para o dia o terreno onde um dia habitamos. A limpeza leva tempo, retirar entulhos, se desfazer de objetos, planar e estabilizar o terreno, tudo muito parecido com o que se faz dentro de cada um de nós quando precisamos lidar com uma ruptura.

No mais, a pergunta que mais intriga é "o que fazer para esquecer?". Levanto uma outra pergunta , será possível esquecer uma parte de nós mesmos? Sim, porque quando queremos esquecer alguém que se foi é em último caso uma parte de nós mesmos com a qual não queremos mais contato. O grande conflito se instala quando percebemos o quanto é impossível que isso aconteça a curtíssimo prazo, como é impossível passar uma borracha na nossa história e no que a compôs, ainda que seja apenas um fragmento de um todo.

Esquecer não é o objetivo final, até porque quando o temos como meta a complicação pode ser ainda maior. É muito mais importante que se lide com todo o processo da dor, com as etapas naturais da dor da separação. Apressar esse processo na maioria das vezes traz consequências ainda piores. A pessoa até acredita que superou e está bem, mas o que normalmente acontece é uma enorme recaída num momento posterior. É necessário refazer a parte da estrutura que ficou frágil e não apenas retocar.

Apesar do oposto que vivemos atualmente é importante que se respeite o tempo e a si mesmo, o tempo humano e não o tecnológico e frenético que vimos acontecer.

Duas frases "Não aguento mais sofrer" e "Quero logo superar essa dor". Exemplos claros do sentimento geral. Parar de sofrer e superar a dor são coisas absolutamente possíveis, porém não imediatas. Os dois exemplos citados falam de pessoas e suas histórias compostas na relação e no tempo. A urgência não está em se sentir logo recuperado, a urgência está em conseguir perceber que humanos precisam do seu próprio tempo, precisam sentir a dor para encontrar meios de superá-la verdadeiramente, precisam compartilhar o que sentem, precisam enfim compreender que não são fracos porque sofrem, mas que ao conseguir lidar e elaborar a dor podem sim se tornar mais fortes.

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